Quanto mais produtividade, melhor. Será?

Se tem uma palavra que está sendo falada repetidamente durante a pandemia pelo novo Coronavírus é produtividade. Como mantê-la, ampliá-la e não surtar com ela? Será que a produtividade é a mocinha da história ou ela pode se tornar uma vilã?

Ser ou não ser produtivo, eis a questão. Sim, a produtividade, junto com a reinvenção (pessoal e profissional) é uma das palavras mais faladas durante a pandemia pelo novo Coronavírus e a necessidade de isolamento social. Todo mundo que teve essa possibilidade foi colocado para trabalhar em casa ou afastado por tempo indeterminado.

Em ambos os casos, o caos de não sabe como agir na questão do trabalho à distância ou do tempo ocioso imperou, ao menos nas primeiras semanas. Com o tempo, foram surgindo dicas para ser mais produtivo, lives e mais lives sobre produtividade, sobre como entender seu próprio ritmo, e, também, como não enlouquecer na quarentena. No fim, todos esses assuntos estão entrelaçados.

Podemos dividir esse período de isolamento, já afrouxado em algumas cidades, em fases:

  1. A surpresa – com o surgimento dos primeiros casos de Covid-19 no Brasil, a primeira fase foi a da surpresa. Fomos pegos no susto, digamos assim, com a rapidez com que a pandemia se disseminou.
  2. A incerteza – aí, veio o medo, a necessidade de afastamento social, a incerteza quanto ao futuro, ao trabalho, à renda … tudo que já conhecemos bem.
  3. A fantasia – atire a primeira pedra quem, em algum momento lá pela terceira semana de quarentena, não imaginou que ela fosse “durar pouco” e logo tudo fosse voltar ao “normal”.
  4. A tristeza – quando vimos que a fantasia era mesmo só uma fantasia, aí veio a fase de tristeza e a descrença quanto aos nossos processos sociais – saúde, política, economia. O que fazer, não é mesmo?
  5. As mudanças – a partir da fase de tristeza e descrença, podemos voltar a dividir a pandemia, mas aí em uma parte de pessoas que acabaram entendendo que precisam fazer algo por si, e uma parte que ainda espera que a solução venha apenas de fora. Na nossa opinião, a segunda fatia é a que está sofrendo mais.

Em que fase de produtividade de vida você está?

Mas, se pegarmos as pessoas que estão trabalhando em sistema remoto e aquelas que começaram seis processos de reinvenção e estão correndo atrás do tempo perdido, podemos encontrar vários casos de ansiedade, de angústia, insatisfação ou mesmo de depressão. Isso porque a palavra produtividade pode, sim, se tornar algo tóxico.

Quando não estamos acostumados a trabalhar em casa, tanto podemos acabar trabalhando menos, nos dedicando, por exemplo, um tempo maior à família. Quando podemos, simplesmente, não ter limites e nem hora para parar – a produtividade se torna um fantasma. Junte isso a dias que se tornam mais ou menos iguais, finais de semana, inclusive, especialmente para quem está em real isolamento. E aí temos um quadro bem sério, não é mesmo?

A grande pergunta é: quanto mais produtividade, melhor? Existem pesquisas que mostram que trabalhar em casa  acaba, muitas vezes, sendo mais produtivo, já que estamos longe de reuniões, interrupções necessárias e outras questões que tornam as 8h diárias nos escritórios um cenário para muito tempo fora de casa e poucas tarefas realizadas.

Mas, por outro lado, é preciso se impor limites. Quem já está acostumado ao home-office sabe que é preciso encontrar uma rotina – mesmo que mais amena, porém que limite as horas de trabalho e que permita relaxar, ter tempo para si e também para a interação social, embora agora seja apenas de forma remota.

Sabemos que muitas cidades já estão voltando ao seu normal. Mas ainda há uma incerteza quanto ao futuro da pandemia e, de qualquer forma, fica aí um grande aprendizado. Ser produtivo é o que faz a roda da economia girar, inclusive a nossa própria, mas é também o que pode nos adoecer, e equilíbrio precisa ser a palavra-chave da vez.